Gustavo Díaz Sosa

Gustavo Díaz Sosa Fomos abençoados com a qualidade divina do livre arbítrio, mas desconhecemos o seu verdadeiro significado e o grande poder que ele traz. As nossas escolhas parecem estar condicionadas pelos interesses daqueles que dominam o mundo da matéria. Vivemos de uma forma gregária como adereços num grande palco feito pelas mentes mais poderosas. Negámos a nossa verdadeira identidade ao sermos seduzidos pelas tentações oferecidas por aqueles que governam. Caímos na gravitação da matéria, distorcendo o nosso estado primordial. A humanidade está perdida porque esqueceu a sua verdadeira essência, como uma criança que perde a sua inocência ao tornar-se adulta. O nosso instinto não aplicou o livre arbítrio ou foi mais fácil acreditar no que as mentes mais poderosas nos fazem ver? O que foi feito da Verdade? O que foi feito do sopro que deu vida a Adão? O que foi feito do homem à imagem e semelhança de Deus? Sim, o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus, mas como pode ele reconhecê-lo se ele próprio o desfigura? O meu trabalho é uma percepção pessoal e poética do estado actual da sociedade. Acredito que a humanidade vive inconscientemente rendida à falácia que nos é imposta como "verdade" a partir do momento em que nascemos. Os meus personagens fogem sem saber para onde ir. Encurralados, procuram saídas entre as paredes erigidas pelo Poder reinante. A multidão tenta salvar-se sem se aperceber que ainda está num caminho incerto. Quem sou eu? De onde venho? Porque existo? Para onde vou? A verdadeira resposta a estas perguntas faria de nós seres livres, mas a forma como fomos "programados" impede-nos de os conseguirmos resolver. A arquitectura baseia-se na linguagem divina da Criação a fim de se erguer e permanecer no tempo. Mas tal como tem servido para proteger o homem, também tem sido utilizado para o dominar. É por isso que o reflicto no meu trabalho como um símbolo da graça divina e, ao mesmo tempo, do poder. As grandes paredes das igrejas, templos e arranha-céus mostram a arte do homem de dominar as leis divinas da natureza, sendo ao mesmo tempo minimizado pela majestade daqueles que o governam. É uma alegoria do que somos perante o Universo e perante as grandes leis que nos são impostas desde o nascimento. Os mais dominantes sempre se protegeram atrás de muros altos para reafirmar a fragilidade dos mais fracos. Encorajo a reflexão utilizando atmosferas e composições dramáticas de carácter cenográfico que por vezes nos recordam Josef K. afundado no desespero desolado de um "Processo" sem fim e sem sentido ou enfrentando um "Castelo" imenso e inalcançável, como Kafka relata nos seus romances. Pode também fazer lembrar "Crime e Castigo", um romance em que Dostoevsky sujeita Raskolnikov aos conceitos paradoxais do bem e do mal, do ético e do imoral, do desejado e do indevidamente desejado. E, claro, confio em "1984", onde George Orwell introduziu o conceito do omnipresente e vigilante Big Brother e narra o funcionamento de uma política totalitária que rege a humanidade à vontade. Mas desde então, tal como Dante procura encontrar-se a si próprio quando se encontrava fora da recta e estreita numa floresta escura, o meu trabalho é um reflexo contínuo para compreender quem eu sou, de onde venho e para onde vou.